Evangelho (Mateus 5,1-12a)

Domingo, 6 de Novembro de 2011
Solenidade de todos os Santos


Naquele tempo, 1vendo Jesus as multidões, subiu ao monte e sentou-se. Os discípulos aproximaram-se, 2e Jesus começou a ensiná-los:
3“Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus.
4Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados.
5Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra.
6Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.
7Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.
8Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus.
9Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus.
10Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus!
11Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e, mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós, por causa de mim. 12aAlegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus”.



Primeira leitura (Apocalipse 7,2-4.9-

14)

Domingo, 6 de Novembro de 2011
Solenidade de todos os Santos



Livro do Apocalipse de São João:

Eu, João, 2vi um outro anjo, que subia do lado onde nasce o sol. Ele trazia a marca do Deus vivo e gritava, em alta voz, aos quatro anjos que tinham recebido o poder de danificar a terra e o mar, dizendo-lhes: 3“Não façais mal à terra, nem ao mar, nem às árvores, até que tenhamos marcado na fronte os servos do nosso Deus”.
4Ouvi então o número dos que tinham sido marcados: eram cento e quarenta e quatro mil, de todas as tribos dos filhos de Israel.
9Depois disso, vi uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas, e que ninguém podia contar. Estavam de pé diante do trono e do Cordeiro; trajavam vestes brancas e traziam palmas na mão. 10Todos proclamavam com voz forte: “A salvação pertence ao nosso Deus, que está sentado no trono, e ao Cordeiro”.
11Todos os anjos estavam de pé, em volta do trono e dos Anciãos, e dos quatro Seres vivos, e prostravam-se, com o rosto por terra, diante do trono. E adoravam a Deus, dizendo:12“Amém. O louvor, a glória e a sabedoria, a ação de graças, a honra, o poder e a força pertencem ao nosso Deus para sempre. Amém”. 13E um dos Anciãos falou comigo e perguntou: “Quem são esses vestidos com roupas brancas? De onde vieram?”
14Eu respondi: “Tu é que sabes, meu senhor”.
E então ele me disse: “Esses são os que vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram as suas roupas no sangue do Cordeiro”.



Segunda leitura (1João 3,1-3)

Domingo, 6 de Novembro de 2011
Solenidade de todos os Santos



Primeira Carta de São João:

Caríssimos: 1Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: de sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos! Se o mundo não nos conhece, é porque não conheceu o Pai.
2Caríssimos, desde já somos filhos de Deus, mas nem sequer se manifestou o que seremos! Sabemos que, quando Jesus se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é. 3Todo o que espera nele purifica-se a si mesmo, como também ele é puro.



Salmo (Salmos 23)

Domingo, 6 de Novembro de 2011
Solenidade de todos os Santos




— É assim a geração dos que procuram o Senhor!
— É assim a geração dos que procuram o Senhor!

— Ao Senhor pertence a terra e o que ela encerra,/ o mundo inteiro com os seres que o povoam;/ porque ele a tornou firme sobre os mares,/ e sobre as águas a mantém inabalável.
— “Quem subirá até o monte do Senhor,/ quem ficará em sua santa habitação?”/ “Quem tem mãos puras e inocente coração,/ quem não dirige sua mente para o crime.
— Sobre este desce a bênção do Senhor/ e a recompensa de seu Deus e Salvador”./ “É assim a geração dos que o procuram,/ e do Deus de Israel buscam a face”.




Um autêntico programa de vida cristã


O chamado Sermão da Montanha faz parte do discurso inaugural do ministério público de Jesus, que se estende dos capítulos 5 a 7 do Evangelho de São Mateus. O de hoje é o primeiro dos cinco discursos que o evangelista distribui estrategicamente no seu livro.

No texto destacamos dois elementos fundamentais: primeiro está o lugar de onde Jesus fala e o conteúdo do discurso. Depois de pregar nas sinagogas da Galileia, acompanhado de uma grande multidão, Cristo subiu ao monte para rezar, escolhe os doze apóstolos e depois chega a um lugar plano.

Sentando ali, os discípulos do Senhor e toda a multidão se aproximam de Jesus. Então Ele, tomando a palavra, começa a ensinar: “Bem-aventurados os pobres em espírito porque deles é o Reino dos céus [...]“.

A intenção evidente do evangelista é apresentar-nos um discurso completo. Há, portanto, aqui, uma unidade retórica; sendo este termo entendido não só como uso de figuras de estilo, mas, sobretudo, como forma de usar as palavras e construir o discurso visando cumprir um determinado objetivo, que neste caso é proclamar de um modo novo o Evangelho do Reino.

Não há aqui espaço para uma interpretação detalhada do texto. Utilizaremos como marco hermenêutico a novidade que este sermão nos traz, advertindo desde já que, de maneira nenhuma, se trata de ruptura com o Antigo Testamento, mas sim do seu pleno cumprimento em Jesus Cristo. De fato, Ele declara: “Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas. Não vim revogá-los, mas levá-los à perfeição”. Levar à perfeição é o mesmo que dar pleno cumprimento, realizar plenamente.

À semelhança de Moisés, que sobe ao monte Sinai para receber as tábuas da Lei que há-de comunicar ao povo de Israel (cf. Ex 19,3.20; 24,15), há quem veja na pessoa de Jesus um “novo Moisés” que surge como Mestre – não apenas de Israel – mas de todos os homens, chamados à vocação universal de serem discípulos de Cristo, pela escuta e vivência da sua Palavra: “Nem todo o que me diz: ‘Senhor, Senhor’ entrará no Reino do Céu, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está no Céu” Ou ainda: “Todo aquele que escuta estas minhas palavras e as põe em prática é como o homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha”.

Jesus senta-se na “cátedra” de Moisés (a montanha) como o Moisés maior, que estende a Aliança a todos os povos. Assim, podemos ver o Sermão da Montanha como “a nova Torah” trazida por Ele.

Devemos insistir, porém, que não se trata aqui de abandonar a Torah dada na aliança do Sinai. É sabido que o primeiro Evangelho foi escrito para uma comunidade de cristãos de origem judaica, enraizados e familiarizados com a Lei de Moisés que continuava a ser valorizada e praticada. A preocupação do evangelista é mostrar que, sem abolir nada do que Moisés tinha deixado, Cristo, com a Sua ação, o supera e leva à perfeição como só Ele pode fazê-lo, absolutamente melhor do que qualquer outro profeta.

O que Mateus nos apresenta no texto de hoje não tenho nem sequer uma sombra de dúvida de que seja o anúncio de um novo céu e uma nova terra onde haveremos de morar. É como que a realização de todas as promessas e bênçãos de Deus nos discípulos da nova Aliança em Cristo, assim como no novo espírito com que se deve cumprir a Lei, concretizado nas práticas da esmola, da oração e do jejum.

A atitude dos filhos do Reino traduz-se numa nova relação com as riquezas, com o próprio corpo, com as coisas do mundo e com Deus, a quem nos dirigimos como Pai e de cujo Reino se busca a justiça, antes de tudo.

Como não se pode dizer que se ama a Deus se não se ama os irmãos, não falta aqui a referência a uma nova relação com o próximo. Finalmente, o epílogo do Sermão da Montanha faz uma recapitulação e um apelo veemente a não apenas escutar a Palavra, mas a pô-la em prática de forma consciente e deliberada.

Procuramos, da forma mais breve possível, ver como em Jesus Cristo se cumpre a promessa de Deus ao povo de Israel em Deuteronômio 18,15: “O Senhor, teu Deus, suscitará no meio de vós, dentre os teus irmãos, um profeta como eu; a ele deves escutar”e a Moisés em Dt 18,18: “Suscitar-lhes-ei um profeta como tu, dentre os seus irmãos; porei as minhas palavras na sua boca e ele lhes dirá tudo o que Eu lhe ordenar”.

Como acontece noutras passagens dos Evangelhos, também aqui Jesus Cristo anuncia o Reino dos céus. Esta é uma forma semítica de dizer “Reino de Deus” que está no meio de nós e se realiza plenamente no domínio ou reinado de Deus sobre todas as suas criaturas e na aceitação ativa, alegre e jubilosa desse reinado pelas mesmas criaturas, a começar pelo homem, criado à Sua imagem e semelhança.

O Sermão da Montanha é então para nós um autêntico programa de vida cristã que não deixaremos de meditar e pôr em prática em todos os dias, pois ele compreende o anúncio do novo céu e da nova terra onde haveremos de morar.

Padre Bantu Mendonça


fonte:

http://blog.cancaonova.com/homilia/2011/11/06/

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