"É precisio falar de Jesus e sobre Jesus" Pe Pacheco

Naquele tempo, a fama de Jesus chegou aos ouvidos do governador Herodes. 2Ele disse a seus servidores: “É João Batista, que ressuscitou dos mortos; e, por isso, os poderes miraculosos atuam nele”. 3De fato, Herodes tinha mandado prender João, amarrá-lo e colocá-lo na prisão, por causa de Herodíades, a mulher de seu irmão Filipe.4Pois João tinha dito a Herodes: “Não te é permitido tê-la como esposa”. 5Herodes queria matar João, mas tinha medo do povo, que o considerava como profeta. 6Por ocasião do aniversário de Herodes, a filha de Herodíades dançou diante de todos, e agradou tanto a Herodes 7que ele prometeu, com juramento, dar a ela tudo o que pedisse.8Instigada pela mãe, ela disse: “Dá-me aqui, num prato, a cabeça de João Batista”. 9O rei ficou triste, mas, por causa do juramento diante dos convidados, ordenou que atendessem o pedido dela. 10E mandou cortar a cabeça de João, no cárcere. 11Depois a cabeça foi trazida num prato, entregue à moça e esta a levou a sua mãe. 12Os discípulos de João foram buscar o corpo e o enterraram. Depois foram contar tudo a Jesus.
Evangelho (Mateus 14,1-12)


Primeira leitura (Jeremias 26,11-16.24)
Leitura do Livro do Profeta Jeremias.


Naqueles dias, 11os sacerdotes e profetas dirigiram-se aos chefes e a todo o povo, dizendo: “Este homem foi julgado réu de morte, porque profetizou contra esta cidade, como ouvistes com vossos ouvidos”. 12Disse Jeremias aos dignitários e a todo o povo: “O Senhor incumbiu-me de profetizar para esta casa e para esta cidade através de todas as palavras que ouvistes. 13Agora, portanto, tratai de emendar a vossa vida e as obras, ouvi a voz do Senhor, vosso Deus, que ele voltará atrás da decisão que tomou contra vós. 14Eu estou aqui, em vossas mãos, fazei de mim o que vos parecer conveniente e justo, 15mas ficai sabendo que, se me derdes a morte, tereis derramado sangue inocente contra vós mesmos e contra esta cidade e seus habitantes, pois em verdade o Senhor enviou-me a vós para falar tudo isso a vossos ouvidos”.
16Os chefes e o povo em geral disseram aos sacerdotes e profetas: “Este homem não merece ser condenado à morte; ele falou-nos em nome do Senhor, nosso Deus”. 24Jeremias passou a ter proteção de Aicam, filho de Safã, para não cair nas mãos do povo e evitar ser morto.


Salmo (Salmos 68)

— No tempo favorável, escutai-me, ó Senhor!
— No tempo favorável, escutai-me, ó Senhor!

— Retirai-me deste lodo, pois me afundo! Libertai-me, ó Senhor, dos que me odeiam, e salvai-me destas águas tão profundas! Que as águas turbulentas não me arrastem, não me devorem violentos turbilhões, nem a cova feche a boca sobre mim!
— Pobre de mim, sou infeliz e sofredor! Que vosso auxílio me levante, Senhor Deus! Cantando eu louvarei o vosso nome e agradecido exultarei de alegria!
— Humildes, vede isto e alegrai-vos: o vosso coração reviverá, se procurardes o Senhor continuamente! Pois nosso Deus atende à prece dos seus pobres, e não despreza o clamor de seus cativos.


Homilia:


O Evangelho de hoje nos diz que, naquele tempo, a fama acerca de Jesus e daquilo que Ele fazia havia se espalhado para todos os lugares e pessoas. Inclusive, esta fama caiu nos ouvidos de Herodes por parte de seus servidores que lhe contaram sobre a pessoa e as obras de Cristo.

Do povo simples aos mais altos postos da sociedade – especialmente o rei – todos estavam por dentro do assunto: a pessoa e os feitos de Jesus Cristo na vida das pessoas.

"Só falamos – com mais propriedade, a ponto de comover as pessoas – quando falamos daquilo que está no coração!"


O que mais me impressiona é fato de que só falamos – com mais propriedade, a ponto de comover as pessoas – quando falamos daquilo que está no coração, depois de uma profunda experiência vivida. Para dizer que a grande maioria das pessoas não estavam diante de uma simples notícia, mas de uma realidade que elas haviam vivido com aquela Pessoa, que as havia marcado, no caso, Jesus Cristo.

Onde estão, hoje, as pessoas – a começar por cada um de nós – que não estão falando mais de Jesus, a ponto de causar uma curiosidade e uma vontade enorme nos outros, a ponto de também quererem conhecê-Lo? Muitos ainda não fizeram uma experiência de Nosso Senhor Jesus Cristo não porque sejam pessoas más; pelo contrário, não existe pessoa má, existem pessoas com atitudes más, o que é bem diferente. Estas ainda não fizeram uma experiência de Jesus, porque ainda não falamos d’Ele para elas; não O anunciamos ainda. E por que não anunciamos o Senhor muitas e muitas vezes? Porque ninguém fala daquilo que não está no coração. Isso é seriíssimo!

O mesmo Cristo que passava na vida das pessoas, este mesmo Jesus está vivo, ressuscitado e continua a passar pela vida de cada um de nós; aliás, muito mais que passar, Ele encontra-se dentro de cada um de nós. Os servidores de Herodes falaram do Senhor – deram a notícia, a Boa Nova – porque Cristo estava dentro dos seus corações. Por isso, Herodes ouviu falar d’Ele, independente de não ter entendido nada, a ponto de falar tamanha bobagem, dizendo que Jesus era João Batista, que havia ressuscitado e, agora, era outro: Jesus Cristo.

Vamos falar de Jesus de modo que desperte nas pessoas – a começar por aquelas que estão mais próximas de nós – uma vontade imensa de querer conhecê-Lo e, consequentemente querer segui-Lo. Mas para que possamos falar de Cristo é preciso, antes, falar com Ele, ou seja, sermos íntimos d’Ele, apaixonados por Ele, pois a gente fala daquilo que o coração está cheio.

Falar em Jesus, capaz de tocar as pessoas, é falar a partir daquilo que está dentro, no coração e não somente na ideia, no conhecimento. Não falamos mais do Filho de Deus, muitas e muitas vezes, pois só se fala daquilo que se conhece e se ama. Sejamos servidores do Evangelho, de Jesus Cristo, levando-O a todos os que ainda não O conhecem.

Padre Pacheco
Comunidade Canção Nova


Comentário ao Evangelho

O PROFETA SILENCIADO


O assassinato de João Batista recoloca um tema comum, no âmbito da história do profetismo bíblico: a imposição do silêncio ao enviado de Deus. Quem recebeu a missão divina de convocar o povo à conversão, acaba sendo silenciado por quem deveria escutá-lo. Outro tema é o da intrepidez dos profetas. Embora devendo defrontar-se com forças hostis e refratárias à sua pregação, não se deixaram intimidar, por terem consciência do caráter divino da missão recebida.
A intrepidez de João Batista revela-se na coragem com que se defronta com um governante ímpio. Reconhecidamente prepotente, Herodes apoderou-se, sem escrúpulos, da esposa de seu irmão, tomando-a como mulher. Sem medo, o profeta João denuncia a injustiça cometida, e sofre as conseqüências de sua ousadia.
A decisão de jogar o Batista na prisão funciona como uma maneira de calá-lo. Encarcerado numa fortaleza romana, ele teve a sua liberdade cerceada, e a voz calada.
Mas isto ainda foi pouco, no parecer na mulher ilegítima de Herodes. Era preciso fazer calar João definitivamente. A oportunidade para isto surgiu por ocasião de uma festa. Embora a contragosto, Herodes atendeu o pedido da mulher e mandou decapitar o profeta incômodo.
O destino de João Batista prenunciara o de Jesus. Também a este procuravam calar, por causa da liberdade com que denunciava os desmandos dos prepotentes de seu tempo.

Prece
írito de intrepidez, dá-me a coragem dos profetas para denunciar as injustiças cometidas pelos grandes e prepotentes.

Pe. Jaldemir Vitório
Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE

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