Evangelho (Lucas 12,13-21)
Segunda-Feira, 17 de Outubro de 2011
Santo Inácio de Antioquia
14Jesus respondeu: “Homem, quem me encarregou de julgar ou de dividir vossos bens?”15E disse-lhes: “Atenção! Tomai cuidado contra todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens”.
16E contou-lhes uma parábola: “A terra de um homem rico deu uma grande colheita. 17Ele pensava consigo mesmo: ‘Que vou fazer? Não tenho onde guardar minha colheita’.18Então resolveu: ‘Já sei o que vou fazer! Vou derrubar meus celeiros e construir maiores; neles vou guardar todo o meu trigo, junto com os meus bens. 19Então poderei dizer a mim mesmo: Meu caro, tu tens uma boa reserva para muitos anos. Descansa, come, bebe, aproveita!’ 20Mas Deus lhe disse: ‘Louco! Ainda nesta noite, pedirão de volta a tua vida. E para quem ficará o que tu acumulaste?’ 21Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico diante de Deus”.
Primeira leitura (Romanos 4,20-25)
Irmãos, 20diante da promessa divina, Abraão não duvidou por falta de fé, mas revigorou-se na fé e deu glória a Deus, 21convencido de que Deus tem poder para cumprir o que prometeu.
22Esta sua atitude de fé lhe foi creditada como justiça. 23Afirmando que a fé lhe foi creditada como justiça, a Escritura visa não só à pessoa de Abraão, mas também a nós, pois a fé será creditada também a nós que cremos naquele que ressuscitou dos mortos Jesus, nosso Senhor. 25Ele, Jesus, foi entregue por causa de nossos pecados e foi ressuscitado para nossa justificação.
Salmo (Lucas 1,69-75)
— Bendito seja o Senhor Deus de Israel, porque a seu povo visitou e libertou.
— Fez surgir um poderoso Salvador na casa de Davi, seu servidor, como falara pela boca de seus santos, os profetas desde os tempos mais antigos.
— Para salvar-nos do poder dos inimigos e da mão de todos quantos nos odeiam. Assim mostrou misericórdia a nossos pais, recordando a sua santa Aliança.
— E o juramento a Abraão, o nosso pai, de conceder-nos que, libertos do inimigo, a ele nós sirvamos sem temor em santidade e em justiça diante dele, enquanto perdurarem nossos dias.
A vida não consiste em acumular riquezas
O parágrafo se inicia com uma advertência séria: “Cuidado! Deveis estar em vigilantes de modo a evitar toda forma de cobiça ou ambição de ser ricos. Pois a verdadeira vida não depende da abundância dos bens materiais”. Na realidade, Jesus usa no presente do infinitivo o verbo exceder. A tradução seria: porque na realidade a vida de alguém não consiste em ter excesso de posses. A vida não consiste em acumular riquezas. E na continuação Jesus explica o porquê desta afirmação que vai fazer com que Paulo descreva a cobiça como uma forma de idolatria (Cl 3,5).
Em Eclesiástico 1,18-19 podemos ler que quem se enriquece por avareza está com os pés na cova, pois quando ele disser: “Encontrei descanso, agora comerei dos meus bens”, não sabe quando deixará tudo a outros e morrerá. Ou ainda como está no Livro dos Provérbios: “Não te glories do dia de amanhã, porque não sabes o que trará à luz” (Prov 27,1)
No Evangelho, Jesus fala a respeito de um homem cujas terras produziram uma colheita copiosa.: “Que farei, pois não tenho onde estocar semelhante riqueza?” Ele só pensou em si mesmo para viver uma vida de descanso e prazer. Como diz o apóstolo Paulo em 1Cor 15,32: “Comamos e bebamos que amanhã morreremos”. E, com a finalidade que também propõe o livro do Sirácida: “Encontrei descanso; agora comerei de meus bens” (11,19), pensa em aumentar a capacidade de seus celeiros para ter uma vida fácil, sem preocupações, para descansar, comer, beber e gozar como muitos fazem nos dias atuais.
Uma solução mais fácil seria repartir o que não coubesse nos celeiros com os mais necessitados. Ou vender a preço mais acessível o excedente. Seria uma maneira de ajudar a quem não tem e cumprir com o que Tobit recomendava a seu filho Tobias: “Dá esmola de tudo que te sobrar e não sejas avaro na esmola”(Tb 4,16).
Num caso de justiça Jesus é interpelado. Mas Jesus recusa a ser juiz. A justiça, considerada do ponto de vista humano, é falha e deixa muito a desejar. No litígio, os homens enfrentam uma guerra que mata não os corpos, mas a amizade e o amor. Por isso, Jesus dirá: “Assume uma atitude conciliadora com o teu aniversário, enquanto estás no caminho, para não te acontecer que teu aniversário te entregue ao juiz e o juiz ao oficial de justiça e assim, sejas lançado na prisão” (Mt 5,25).
Porém, a caridade não procura o seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade (1 Cor 13,5-6). De fato, todas as revoluções em nome da justiça, da igualdade e da liberdade têm sido extremamente cruentas e abundantes em mortes humanas. Muitas destas revoluções buscam a desforra e a vingança. Por isso, todas as encíclicas sociais da Igreja terminam com a mesma advertência: a justiça deve ser temperada pela caridade que é a que tem a última palavra nas relações sociais.
Talvez não tenhamos em conta que, num mundo tão injusto como o romano – de escravos e cidadãos diversamente classistas – Jesus nada disse a respeito. Porém, a ênfase evangélica está na justiça divina para a qual Lucas deixa a definitiva sentença, como “Ai de vós ricos, porque já tendes a vossa consolação”(Lc 6,24).
O problema da desigualdade – para não dizer péssima distribuição de riquezas, – tem como solução uma voluntária redistribuição das mesmas, de modo que os mais ricos enriqueçam os mais pobres com as riquezas que para eles sobram e para estes faltam.
A chamada esmola deve ser considerada como uma necessidade voluntária de distribuição das riquezas. Mais do que condenar os ricos devemos pregar a pobreza voluntária, desterrando a ambição como programa humano e oferecendo a simplicidade e a austeridade de vida como objetivos evangélicos e ideais sociais.
Padre Bantu Mendonça
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