Naquele tempo, 21Jesus retirou-se para a região de Tiro e Sidônia. 22Eis que uma mulher cananeia, vindo daquela região, pôs-se a gritar: “Senhor, filho de Davi, tem piedade de mim: minha filha está cruelmente atormentada por um demônio!” 23Mas, Jesus não lhe respondeu palavra alguma. Então seus discípulos aproximaram-se e lhe pediram: “Manda embora essa mulher, pois ela vem gritando atrás de nós”. 24Jesus respondeu: “Eu fui enviado somente às ovelhas perdidas da casa de Israel”. 25Mas, a mulher, aproximando-se, prostrou-se diante de Jesus, e começou a implorar: “Senhor, socorre-me!” 26Jesus lhe disse: “Não fica bem tirar o pão dos filhos para jogá-lo aos cachorrinhos”. 27A mulher insistiu: “É verdade, Senhor; mas os cachorrinhos também comem as migalhas que caem da mesa de seus donos!” 28Diante disso, Jesus lhe disse: “Mulher, grande é a tua fé! Seja feito como tu queres!” E desde aquele momento sua filha ficou curada.
Evangelho (Mateus 15,21-28)
Primeira leitura (Jeremias 31,1-7)
Quarta-Feira, 4 de Agosto de 2010
Leitura do Livro do Profeta Jeremias.
“Naquele tempo, diz o Senhor, serei Deus para todas as tribos de Israel, e elas serão meu povo”. 2Isto diz o Senhor: “Encontrou perdão no deserto o povo que escapara à espada; Israel encaminha-se para o seu descanso”.
3O Senhor apareceu-me de longe: “Amei-te com amor eterno e te atraí com a misericórdia. 4De novo te edificarei, serás reedificada, ó jovem nação de Israel; de novo teus tambores ornarão as praças e sairás entre grupos de dançantes. 5Hás de plantar vinhas nos montes de Samaria; os cultivadores hão de plantar e também colher.
6Virá o dia em que gritarão os guardas no monte Efraim: ‘Levantai-vos, vamos a Sião, vamos ao Senhor, nosso Deus’. 7Isto diz o Senhor: Exultai de alegria por Jacó, aclamai a primeira das nações; tocai, cantai e dizei: ‘Salva, Senhor, teu povo, o resto de Israel’”.
Salmo (Jeremias 31,10-13)
— O Senhor nos guardará qual pastor a seu rebanho.
— O Senhor nos guardará qual pastor a seu rebanho.
— Ouvi, nações, a palavra do Senhor e anunciai-a nas ilhas mais distantes: “Quem dispersou Israel vai congregá-lo, e o guardará qual pastor a seu rebanho!”
— Pois, na verdade, o Senhor remiu Jacó e o libertou do poder do prepotente. Voltarão para o monte de Sião, entre brados e cantos de alegria afluirão para as bênçãos do Senhor:
— Então a virgem dançará alegremente, também o jovem e o velho exultarão; mudarei em alegria o seu luto, serei consolo e conforto após a guerra.
Homilia:
Tiro e Sidônia são duas cidades fenícias, na costa do Mediterrâneo, atualmente pertencentes ao Líbano. Nunca fizeram parte da Galileia, mas se encontram perto da fronteira noroeste desta região. Portanto, no tempo de Jesus estavam fora dos domínios de Herodes Antipas. Para esse local o Senhor se retira a fim de evitar a perseguição deste e dos judeus e para atender de modo mais intenso à formação dos Seus apóstolos.
Algo muito interessante, num primeiro momento, nos chama a atenção: Jesus não tem medo de fugir das ocasiões de perseguição.
E nós? Como reagimos diante das realidades de perseguição com relação ao pecado, por exemplo? Enfrentamos ou fugimos delas? Se as enfrentamos, sempre cairemos; mas se fugimos delas, a exemplo de Cristo, sempre sairemos vencedores. Nesse caso, o valente sempre “quebra a cara” e o que foge sempre sai vencedor, pois não conta com suas forças, mas com a força de Deus.
Tiro e Sidônia são duas cidades pagãs. É aí que Jesus se encontra – repito – para isolar-se das perseguições e para ter um momento forte de formação com os apóstolos. Enquanto aí estão, aparece uma mulher e rasga o coração na presença de Nosso Senhor Jesus Cristo; ela segue o exemplo dos maiores homens e mulheres da Sagrada Escritura, ou seja, rasga as vestes na presença do Senhor, ou seja, rasga o coração e se desnuda, retirando todas as máscaras, diante d’Aquele que ela acredita poder salvar sua filha, que está possessa. O Senhor, para experimentá-la, faz de conta que é insensível à sua súplica. Os apóstolos – estes sim – insensíveis, petulantes, dão ordem a Jesus que ignore – a exemplo deles – aquela mulher aflita.
Meu Deus, como é difícil para cada um de nós nos sensibilizamos com os outros, principalmente os que sofrem! Como somos petulantes e insensíveis; como nos achamos melhores do que os outros! Como precisamos ser mais misericordiosos; com certeza, esta falta de misericórdia que nos invade é o fato de ainda não termos “quebrado a cara” e a “crista”. “Nossa, padre, que dureza nestas palavras…!” Sim, pois só é capaz de ser misericordioso aquele/aquela que experimentou a misericórdia. Como nos achamos muito bons, acreditamos que ainda não necessitamos da misericórdia para valer.
Aquela mulher se lança em Deus, rasca o coração, arrancando todas as máscaras e sendo ela mesma – filha – na presença do Seu Senhor. Ela sabe que a misericórdia de Cristo é dirigida a todos, pois tudo vem d’Ele, inclusive os cachorrinhos. Na verdade, o raciocínio daquela mulher, profunda na fé, é o seguinte: se a misericórdia de Deus invade toda a criação, assim como aos cachorrinhos, por exemplo, quanto mais esta mesma graça não lhe estará reservada pelo fato de ser filha de Deus, como também o é a sua filha possessa. Jesus se impressiona com aquela “pagã”, pois não tinha visto ainda tamanha fé em Israel, lugar dos “santos e dos puros na fé”. Hipócritas!
Nós nos surpreenderemos, um dia, no Reino dos Céus, pois – como já disse Jesus – as prostitutas nos antecederão! Isso é muito sério.
Padre Pacheco
Comunidade Canção Nova
Comentário ao Evangelho
A FÉ DOS PAGÃOS
Na primitiva comunidade cristã, havia uma classe de cristãos, provenientes do judaísmo, cuja tendência era não se abrir para os pagãos. Acreditavam ser os destinatários exclusivos da Boa Nova cristã. Por conseguinte, os pagãos estariam excluídos do Reino anunciado por Jesus.
Foi preciso combater esta rigidez, apelando para a sensibilidade do Mestre em relação à fé dos pagãos.
O episódio da mulher cananéia prestou-se bem para esta finalidade. A mulher pagã foi persistente no seu objetivo: a cura da filha atormentada por um demônio. Por isto, não se intimidou diante dos discípulos, nem de Jesus, até ver realizado o seu desejo. Nem a má-vontade daqueles, nem a dureza das palavras do Mestre foram suficientemente fortes para fazê-la esmorecer.
Os discípulos queriam ver-se livres daquela mulher importuna. Sua gritaria deixava-os irritados, a ponto de pedirem a Jesus que a mandasse embora. Não convinha que o pedido de uma mulher pagã fosse atendido por ele.
Jesus, por sua vez, também deu mostras de relutar em atendê-la, até o ponto de usar o termo - cães -, com que os judeus costumavam chamar os pagãos. Mas, afinal, dobrou-se diante de uma fé evidente, tendo realizado o desejo da mulher pagã.
Como Jesus, a comunidade cristã deveria deixar de ser inflexível em relação aos pagãos convertidos à fé, abrindo para eles as portas da comunidade.
Prece
Espírito benevolente, ajuda-me a superar a rigidez e o fechamento em relação a quem está à margem da comunidade, reconhecendo que, também neles, existe fé.
(O comentário do Evangelho é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado no Portal Dom Total a cada mês.)
Por: Sesimar Alves / Sobral
Há 5 anos
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