“Curados e alimentados para o serviço do Reino” Pe Pacheco

Naquele tempo, 13quando soube da morte de João Batista, Jesus partiu e foi de barco para um lugar deserto e afastado. Mas quando as multidões souberam disso, saíram das cidades e o seguiram a pé. 14Ao sair da barca, Jesus viu uma grande multidão. Encheu-se de compaixão por eles e curou os que estavam doentes. 15Ao entardecer, os discípulos aproximaram-se de Jesus e disseram: “Este lugar é deserto e a hora já está adiantada. Despede as multidões, para que possam ir aos povoados comprar comida!” 16Jesus porém lhes disse: “Eles não precisam ir embora. Dai-lhes vós mesmos de comer!” 17Os discípulos responderam: “Só temos aqui cinco pães e dois peixes”. 18Jesus disse: “Trazei-os aqui”. 19Jesus mandou que as multidões se sentassem na grama. Então pegou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos para o céu e pronunciou a bênção. Em seguida partiu os pães, e os deu aos discípulos. Os discípulos os distribuíram às multidões. 20Todos comeram e ficaram satisfeitos, e dos pedaços que sobraram, recolheram ainda doze cestos cheios. 21E os que haviam comido eram mais ou menos cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças.
Evangelho (Mateus 14,13-21)

Primeira leitura (Jeremias 28,1-17)
Leitura do Livro do Profeta Jeremias.


1Nesse mesmo ano, no início do reinado de Sedecias, rei de Judá, no quinto mês do quarto ano, disse-me o profeta Ananias, filho de Azur, profeta de Gabaon, na casa do Senhor e na presença dos sacerdotes e de todo o povo:
2“Isto diz o Senhor dos exércitos, Deus de Israel: Quebrei o jugo do rei da Babilônia. 3Ainda dois anos e eu farei reconduzir a este lugar todos os vasos da casa do Senhor, que Nabucodonosor, rei da Babilônia, tirou deste lugar e transferiu para a Babilônia. 4Também reconduzirei a este lugar Jeconias, filho de Joaquim e rei de Judá, juntamente com toda a massa de judeus desterrados para a Babilônia, diz o Senhor, pois eu quebro o jugo do rei da Babilônia”.
5Respondeu o profeta Jeremias ao profeta Ananias, na presença dos sacerdotes e de todo o povo que estava na casa do Senhor, 6dizendo: “Amém, assim permita o Senhor! Realize ele as palavras que profetizaste, trazendo de volta os vasos para a casa do Senhor e todos os deportados da Babilônia para esta terra.
7Ouve, porém, esta palavra que eu digo aos teus ouvidos e aos ouvidos de todo o povo: 8Os profetas que existiram antigamente, antes de mim e antes de ti, profetizaram sobre guerras, aflições e peste para muitos povos e reinos poderosos; 9mas o profeta que profetiza paz, esse somente será reconhecido como profeta, que em verdade o Senhor enviou, quando sua palavra for verificada”.
10Então o profeta Ananias retirou o jugo do pescoço do profeta Jeremias e quebrou-o; 11e disse Ananias, na presença de todo o povo: “Isto diz o Senhor: Deste modo quebrarei o jugo de Nabucodonosor, rei da Babilônia, dentro de dois anos, livrando dele o pescoço de todos os povos”.
E foi-se pelo seu caminho o profeta Jeremias. 12Depois que o profeta Ananias havia retirado o jugo do pescoço do profeta Jeremias, dirigiu-se novamente a palavra do Senhor a Jeremias:
13“Vai dizer a Ananias: Isto diz o Senhor: Quebraste um jugo de madeira, mas em seu lugar farás um de ferro. 14Isto diz o Senhor dos exércitos, Deus de Israel: Pus um jugo de ferro sobre o pescoço de todas estas nações, para servirem a Nabucodonosor, rei da Babilônia, e lhe serão de fato submissas; além disso, dei-lhe também os animais do campo”.
15Disse ainda o profeta Jeremias ao profeta Ananias: “Ouve, Ananias, não foste enviado pelo Senhor, e contudo fizeste este povo confiar em mentiras. 16Isto diz o Senhor: Eis que te farei partir desta terra; morrerás este ano, pois pregaste a infidelidade contra o Senhor”. 17Naquele ano, no sétimo mês, morreu o profeta Ananias.


Salmo (Salmos 118)

— Ensinai-me a fazer vossa vontade!
— Ensinai-me a fazer vossa vontade!

— Afastai-me do caminho da mentira e dai-me a vossa lei como um presente! Não retireis vossa verdade de meus lábios, pois eu confio em vossos justos julgamentos!
— Que se voltem para mim os que vos temem e conhecem, ó Senhor, vossa Aliança! Meu coração seja perfeito em vossa lei, e não serei, de modo algum, envergonhado!
— Espreitam-me os maus para perder-me, mas continuo sempre atento à vossa lei.
— De vossos julgamentos não me afasto, porque vós mesmo me ensinastes vossas leis.




Homilia:


Após saber da morte de João Batista, Jesus vai para um lugar distante e afastado, pois quer estar com o Pai. Neste momento da história de Jesus, com certeza encontra-se com o coração profunda,ente em dor, pelo fato da perda de João Batista. Primeiro ensinamento que precisamos tirar deste evangelho: aonde estamos indo chorar a dor das nossas perdas? Se não for em Deus, nunca conseguiremos compreender e aceitar a dor – uma das mais violentas – de perdermos aqueles que amamos. Jesus não fica preso na dor e na perda, mas busca vivenciar esta dor e esta “não compreensão” em Deus, no Pai, a única razão absoluta de tudo que existe e acontece.

Como se não bastasse este momento impar na vida de Jesus – a morte de João Batista -, pouco tempo possui para rezar esta situação junto do Pai e lhe aparece muitas pessoas profundamente necessitadas do amor de Jesus.

Jesus se compadece destas pessoas e ali, não olhando mais para sua dor e perda – pois tudo já estava entregue no coração do Pai – acolhe cada uma daquelas pessoas e as ama profundamente, realizando curas e libertações. Jesus não perde tempo com aquilo que se chama revezes em sua vida. Ele leva ao Pai e se coloca a serviço dos outros.

Jesus anuncia àquela multidão a boa nova do Reino, cura as feridas daquele povo e, ao cair da tarde, prefigurando a Eucaristia, realiza o milagre da multiplicação dos pães e dos peixes, para alimentar a cada um, pois já era muito tarde. Jesus, por excelência, acolhe – traz cada um para dentro do seu coração -, alimenta com a palavra e o alimento e cura as feridas. Todavia, para não cair num paternalismo e assistencialismo, Jesus realiza tudo isso – cura, alimenta e direciona – para que cada um de nós, libertos, venhamos a nos colocar a serviço do evangelho.

Para dizer que, a sua Palavra e o seu corpo e sangue, são as fontes, por excelência, de toda a libertação do nosso coração, para que possamos nos colocar a serviço daqueles que mais sofrem e necessitam de compaixão.

Alimentemo-nos da Palavra do Senhor; alimentemo-nos do seu Corpo e do seu Sangue; só assim seremos verdadeiramente livres para seguirmos e Senhor e nos colocarmos a serviço do Reino de Deus. Muitos de nós não somos curados, pois buscamos a cura de Deus e não o Deus da cura; buscar a cura de Deus é conveniência, não compromete. Agora buscar o Deus da cura significa comprometimento com aqueles que também buscar ter uma experiência de Deus. Queremos ser curados e alimentados para quê? Para continuarmos com esta mesma vidinha medíocre, egoísta, descomprometida com as pessoas e com o evangelho de Cristo? Esqueçamos! Agora, se busco tudo isso para ser livre, e, livre, me colocar a serviço, daí sim, daí entendi a mensagem do Senhor.

Padre Pacheco,
Comunidade Canção Nova.


Comentário ao Evangelho

DÊEM-LHES DE COMER!


A ordem dada aos discípulos - "Dêem-lhes de comer!" - pode ter-lhes soado como uma ironia. Havia condições de saciar uma multidão, reunida num lugar deserto para escutar Jesus? Não seria mais lógico despedi-la para que pudesse comprar alimentos nas aldeias vizinhas?
A ordem do Mestre parecia impossível de ser executada. Contudo, começou a ser superada, quando os discípulos apresentaram a quantidade de alimento disponível: cinco pães e dois peixes. Bastou-lhes colocá-los à disposição de todos, para que ninguém voltasse para casa faminto.
Assim aconteceu! Num gesto quase litúrgico, Jesus tomou os pães e os peixes, ergueu os olhos para os céus, abençoou-os, partiu-os, deu-os aos discípulos e estes, à multidão. A pequena porção de alimento começou a ser condividida. E todos comeram até à saciedade. E mais, sobraram doze cestos cheios, apesar da enorme quantidade de gente.
Este episódio contém um claro ensinamento. O problema da fome resolve-se com a partilha. Se tivessem ido às aldeias, quem tivesse dinheiro e fosse mais esperto, fartar-se-ia. Quanto aos pobres e os menos ágeis ficariam em desvantagem, permanecendo famintos.
Esta situação é incompatível com o Reino, cujo projeto de fraternidade supera todo tipo de desigualdade.

Prece
Espírito de fraternidade, não permitas que eu me apegue àquilo que possuo, quando tantas pessoas estão à espera da minha generosidade para sobreviver.

(O comentário do Evangelho é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado no Portal Dom Total a cada mês.)

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