"Vou, mas voltarei a vós"

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 23“Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada. 24Quem não me ama, não guarda a minha palavra. E a palavra que escutais não é minha, mas do Pai que me enviou.25Isso é o que vos disse enquanto estava convosco. 26Mas o Defensor, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito.
27Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; mas não a dou como o mundo. Não se perturbe nem se intimide o vosso coração.
28Ouvistes o que eu vos disse: ‘Vou, mas voltarei a vós’. Se me amásseis, ficaríeis alegres porque vou para o Pai, pois o Pai é maior do que eu.
29Disse-vos isso, agora, antes que aconteça, para que, quando acontecer, vós acrediteis”.
(João 14,23-29)

A “nova Jerusalém” é a “morada de Deus com os homens”, dizia-nos a utopia que escutamos domingo passado. Mas uma utopia também serve para mostrar o sentido da realidade presente. Hoje, a liturgia insiste na presença da utopia do Criador: a “inabilitação” de Deus nos homens não acontece apenas na utópica “nova Jerusalém”, mas em cada um que guarda a Palavra do Cristo, Seu mandamento de amor. Pois a Palavra do Cristo não é d’Ele, mas a do Pai que O enviou.

Os discípulos não entenderam isso. Por isso, grande parte dos primeiros anos do Cristianismo decorreu em “tensão escatológica”: aguardava-se a vinda de Cristo com o poder do Alto, a Parusia, como instauração do Reino de Deus. Só aos poucos, os cristãos começaram a entender que a nova criação já tinha se iniciado na própria comunhão do amor fraterno, testemunho do amor de Cristo a todos os homens. Esta compreensão, esta “memória esclarecida” de Cristo é uma das realizações, talvez a mais importante, do Espírito Santo.

Neste tempo intermediário, não devemos ficar com medo ou tristes porque Cristo não está conosco. Ele permanece conosco, neste Espírito, que nos faz experimentar a inabilitação em nós d’Ele e do Pai – portanto, muito mais do que significa sua presença na terra, pois o Pai vale mais que a presença física de Cristo.

Nossa comunidade cristã deve ser antecipação da Jerusalém celeste. Tendo Cristo por centro e luz, certamente haverá unidade e comunhão entre seus habitantes. A primeira leitura de hoje pode ilustrar isso. O conflito na comunidade era grave. O problema era análogo: a Igreja devia ser concebida como uma instituição acabada, à qual os outros se deveriam agregar? Neste caso, ela podia conservar suas instituições tradicionais ou seria a Igreja um povo a ser constituído ainda, aberto para a forma que o Espírito lhe quisesse dar? Para este fim, Paulo e Barnabé procuram a união dos irmãos em redor daquilo que o Espírito tinha obrado junto com eles. Conseguiram. Não se esforçaram em vão. O “Concilio dos Apóstolos”, como se costuma chamar este episódio, confirmou a prática de admitir pagãos sem passar pelas instituições judaicas. Apenas, em nome da mesma união fraterna , os cristãos do paganismo deviam abster-se de quatro coisas que eram realmente tabu para os judeus cristãos; não respeitar isso seria tornar a vida em comunidade impossível. A caridade fraterna acima de tudo!

Na caridade fraterna, Deus e o “Cordeiro” moram conosco. A cidade de Deus não é uma grandeza de ficção científica, mas uma cristandade organizada. Ela é uma realidade interior, atuante em nós e, naturalmente, produzindo também modificações no mundo em que vivemos. Ela é obra do Espírito de Deus que nos impele.

Padre Pacheco
Comunidade Canção Nova

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